VIM PORQUE ME PAGAVAM, e eu queria comprar o futuro a prestações.
Vim porque me falaram de apanhar cerejas ou de armas de destruição em massa. Mas só encontrei cucos e mexericos de feira, metralhadoras de plástico, coelhinhos de Páscoa e pulseiras de lata.
A bordo, alguém falou de justiça (não, não era o Marx). A bordo, falavam também de liberdade. Quanto mais morríamos, mais liberdade tínhamos para matar. Matava porque estavas perto, porque os outros ficaram na esquina do supermercado a falar, a debater o assunto.
Com estas mãos levantei a poeira com que agora cubro os nossos corpos.
Com estas pernas subi dez andares para assim te poder olhar de frente.
Alguém se atreve ainda a falar de posteridade ? Eu só penso em como regressar a casa; e que bonito me fica a esperança enquanto apresento em directo a autópsia da minha glória.