Saravá Palavrá é um emaranhado poético de rezas envoltas em batuques, capaz de unir a cultura oral do povo iorubá a uma língua portuguesa cada vez mais viva. Viva nos terreiros de Salvador. Viva nas esplanadas de Lisboa. Viva nas ruas de Luanda. Viva em Saravá Palavrá também está a mitologia do Candomblé que serve como pano de fundo para o eterno embate entre o corpo, a palavra escrita, e a alma, a palavra falada.
Excerto de "Recado para Viton Araújo", de Marcelino Freire:
Dirão: teu livro é sal. E som magnético. Um sistema elétrico. Ponto final de terreiro. Mergulho e pulsação. Vem de longe essa afirmação. No vento, vem. No fogo, chamando. Na tua ancestralidade. Brasilidade antiga. Pré-histórica a pedra que lapidas. Atiras umas sobre as outras. Lascas. E estilhaços que formam ilhas de resistência. Foi assim que escutei o teu grito. Teu improviso. Ladainha. Reza. Novena. Reisado. És mais ímã do que rima. Fiquei, de fato, tocado. Tomado pelo teu silêncio. Fôlego. Saudade. Qualquer escrita é sobre essa falta que faz. Nosso povo. Dentro da gente nossos iguais. É o Brasil que levas contigo. Plantas no umbigo os segredos do mato. Os cantos sagrados. De cada poema. Uma voz-imagem. Uma língua pretoguesa, com certeza.
