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Os Cadernos de Pickwick

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SKU: 9789896711146

Os Cadernos de Pickwick
de Charles Dickens

Tradução de Margarida Vale de Gato
936 pp.
Tinta da China, 2012
9789896711146

O livro que Fernando Pessoa lamentava já ter lido, por não poder voltar a lê-lo novamente.

«Antes de mais, deve registar‑se o primeiro adjectivo que qualifica o Sr. Pickwick: imortal. Segundo nos diz o título completo do livro, os papéis que documentam a sua vida são póstumos – mas, o que é curioso, ele é imortal logo desde a primeira linha. Dickens está, claro, a ser irónico, mas a ironia contida naquele ‘imortal’ dura apenas umas dezenas de páginas – e de dias: muito rapidamente, o Sr. Pickwick tornou‑se imortal a sério, quer no livro, quer fora dele. Os Cadernos de Pickwick foram publicados em fascículos entre 1836 e 1837. Em Outubro de 1837, o crítico da Quarterly Review registava que ‘menos de seis meses após a publicação do primeiro número, todo o público leitor falava’ das aventuras do Sr. Pickwick. Sobretudo depois do aparecimento de Sam Weller na narrativa, as vendas dos fascículos dispararam, deram origem a merchandising (polainas Pickwick, bengalas Pickwick, chapéus Pickwick, charutos Pickwick) e à formação de clubes Pickwick (que ainda hoje existem) em que cada membro adoptava o nome de uma das personagens do romance. Um leitor rebentou um vaso sanguíneo, de tanto rir, e os amigos lamentaram a sua sorte quando o médico o proibiu de prosseguir a leitura. Thomas Carlyle, numa carta ao primeiro biógrafo de Dickens, conta o desconsolo de certo padre que, depois de prestar conforto espiritual a um enfermo, o ouviu suspirar: ‘Bom, o que interessa é que daqui a dez dias sai mais um número dos Cadernos de Pickwick, graças a Deus.’ […]
Os Cadernos de Pickwick são, então, um romance heterogéneo a ponto de não ser considerado um romance, povoado de personagens que, apesar de tudo, não são exactamente personagens. À primeira vista, trata‑se de uma escolha pouco feliz para inaugurar uma colecção de literatura de humor. No entanto, Os Cadernos de Pickwick foram e são um clássico instantâneo, uma referência na comédia de situação, de linguagem e de personagem, cuja influência se percebe em obras de todos os tipos – não apenas nas estritamente humorísticas. É um livro inocente sobre a inocência, em que tanto o protagonista como o autor vão, a pouco e pouco, deixando de ser inocentes. O eterno Sr. Pickwick, que começa por ser um pateta pomposo e ridículo, é, no final do livro, um homem bondoso e puro – e, no entanto, temos a sensação de que não foi ele quem mudou. As personagens mudam pouco ou nada, ao longo do romance (o Sr. Pickwick continua a ser um ingénuo bem‑intencionado, o Sr. Snodgrass um péssimo poeta, o Sr. Winkle um desportista desastrado, o Sr. Tupman um pinga‑amor celibatário), mas o autor e o leitor mudam. O sarcasmo de Dickens, e o nosso, transforma‑se em admiração, embora o Sr. Pickwick se mantenha igual – como os deuses. Como diz Chesterton, ‘Dickens não escreveu exactamente literatura; escreveu mitologia’.»
— Ricardo Araújo Pereira