Mais Uma Desilusão
Mais Uma Desilusão
Valério Romão
Abysmo, 2024
64 pp.
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No seu primeiro livro de poesia, Valério Romão inscreve-se na longa tradição dos criadores cuja obra contém uma faceta de questionamento e diagnóstico da estranha e aparentemente incurável condição de se «ser português». Partindo do reflexo ao espelho, vai contrapondo as suas próprias experiências formativas – a que não faltam as memórias de infância ou as dores de crescimento – ao território fértil em contradições e promessas de uma país órfão da sua fantasia atlântica e dos territórios que lhe correspondiam, lançado aos braços de uma União Europeia de bolsos fundos e exigências – aparentemente – razoáveis, desejoso de sacudir o mofo de cinco décadas de ditadura para finalmente chegar à tão desejada e misteriosa modernidade e, já agora e no mesmo passo, à idade adulta. Numa altura em que a profética expressão de Marshall McLuhan, segunda a qual «o meio é a mensagem», conforma até a realidade da criação poética, vergando o verso ao cartesianismo perfeito em perpétuo fluxo, Romão opta pela latitude de uma composição incompatível com a ordenha do like contemporâneo, onde o adolescente borbulhento da máquina de jogos dos anos noventa convive com matilhas de ferozes autistas e o pesadelo de uma tropicalização radical e irremediável que acabe por transformar o rectângulo numa estância balnear de lés-a-lés e cada português num curador de memórias alheias.