Entra-se no poema (e no livro) como se entra na música: através das sugestões e imagens que um som é capaz de suscitar e a partir da transfiguração do concreto «observado». E se a música não constitui a única expressão artística que motiva a escrita de Michael Garcia Spring (também a pintura), a verdade é que a sua poesia assenta muito numa notação «realista» (não raro surrealizante) que não se esgota em si mesma: ela convoca os pequenos gestos e objectos de um quotidiano próximo ou imediato capaz de reenviar para um outro plano, o da memória e da emoção, mas uma emoção controlada e discreta. Tudo isso conseguido graças a uma poesia depurada e avessa a grandes expansões discursivas, que encontrou na atenção e na sobriedade o seu modo próprio de ser e dizer.