• Caminhar Oblíquo

Caminhar Oblíquo

21,80 €  
IVA incluído

No dia 28 de abril de 2019, Duarte Belo iniciava, às 18h, uma viagem pedestre no vértice geodésico Penedo Durão, Poiares, Freixo de Espada à Cinta. Tinha como objetivo atravessar uma longa diagonal montanhosa do centro de Portugal e chegar ao Cabo da Roca, Colares, Sintra. Esta é a linha que divide o Portugal Atlântico, a norte, daquele outro meio país, a sul, sob influência climática da bacia do Mediterrâneo. Iria percorrer essa linha imaginária que, de forma indelével, distingue duas realidades que se entretecem num território relativamente pequeno mas de extraordinária diversidade paisagística. Este percurso de limbo será um espelho disso mesmo.

 

Quinze dias após a partida, no dia 12 de maio, por volta das 14h30, chegava ao destino. Para trás ficaram 530 km percorridos numa viagem solitária de acentuada dureza, não apenas pela distância efetuada, as noites no campo e o peso da mochila imposto pelos apenas dois reabastecimentos alimentares durante todo o percurso, mas também pela dificuldade de alguns troços atravessados e pelo clima a que não faltou o sol intenso e o calor, a chuva persistente, a neve ou o nevoeiro.

 

Foi uma viagem de solidão, um exercício pontual de afastamento de um mundo concreto diverso e disperso. Foi a voz silenciada, imersão em pensamentos, o percorrer toda uma vida em fragmentos de alegria e tristeza, condensada em passos mudos. Foi o relento sob a abóbada celeste e o despertar, na madrugada escura, ao som do chilrear de aves invisíveis. Foram as noites mal dormidas, o cansaço extremo, as dores nos pés e nas pernas antes de entrar no sono. Foi o reerguer-me, sempre com uma irracional determinação, para um novo dia.

 

"Caminhar Oblíquo" é o relato sumário dessa travessia, da sempre procurada, no solo, reinvenção, redescoberta, de um país. Talvez mais do que qualquer questão cultural ou identitária relacionada com o habitar de uma terra ao longo de sucessivas gerações que se perdem num tempo longo, este é também um processo de diálogo com essa mesma terra, com o regresso impossível à condição animal, na qual as angústias decorrentes da razão — que se serve da linguagem simbólica e da tecnologia — se esbatem perante o continuado espanto de estar vivo. Descodificar o mundo visível, atribuir nomes e significados às coisas, tomar a consciência de um universo de iguais em que nos integramos e não nos distinguimos de qualquer outro ser, de uma árvore, de um inseto, de um penedo, de uma nuvem.

 

Título: Caminhar Oblíquo
Texto: Duarte Belo
Fotografias e desenhos: Duarte Belo

 

Edição Museu da Paisagem
1ª edição: Março de 2020
320 páginas (150 x 200 mm)
ISBN: 978-989-54497-1-2
PVP: 21,80€

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