Vida: Efeito‑V
Vida: Efeito‑V
Carlito Azevedo
128 páginas
Tinta da China, 2025
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Depois de mais de sete anos de bloqueio, como os proverbiais sete anos de azar, saiu enfim em 2024 uma nova colectânea de Carlito Azevedo, figura destacada da actual poesia brasileira. Aconteceram coisas graves nesses anos, convulsões políticas, uma pandemia e a sua gestão catastrófica. E outras mais privadas, mais comuns, mas não menos trágicas, como a morte de familiares e amigos. Mergulhado em sonhos, em sombras, em livros, em rememorações, o poeta procura abarcar tudo isso em diversos movimentos moventes ou estáticos, fica em casa ou passeia «extramuros», em bairros, avenidas, botecos, cemitérios, com os seus próximos, a mulher amada e os irmãos vivos e mortos («toda irmã / mais velha /é um agente duplo / da infância»). Nem a idade nem as desventuras o vencem, e até nos deparamos com um inesperado júbilo formal. Há poemas curtos, esguios, quase caligramas, estrofes que usam a página toda, odes e meditações, uma vitalidade que parece intempestiva, mas é, ao contrário, bem chegada no momento em que chegou, com os pés no sentimento do tempo e a cabeça numa intemporalidade que pode ser o «efeito V» (o «distanciamento» brechtiano) ou um sentimento vivaz da existência.
Pedro Mexia