PROBLEMAS DO PRIMITIVISMO - A PARTIR DE PORTUGAL
PROBLEMAS DO PRIMITIVISMO - A PARTIR DE PORTUGAL
org. Mariana Pinto dos Santos e Marta Mestre
autores:
Egídia Souto
Joana Cunha Leal
José Neves
Margarida Cafede Moura
Maria Cardeira da Silva
Mariana Pinto dos Santos
Marta Mestre
Nuno Porto
Philippe Charlier
Rita Chaves
Tiago Saraiva
Vera Marques Alves
Wladimir Brito
design: Sofia Gonçalves
408 pp. (a cores)
Documenta, 2024
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Impulsionado pela arte, mas também pela antropologia, a etnologia e as ciências médicas (com os estudos antropométricos e sua relação com teorias eugenistas), o «primitivismo» é um termo complexo e difícil de abarcar. Para o que aqui importa, refere-se ao fascínio, ao estudo e à fetichização em torno de culturas que foram consideradas «primitivas». O «mágico», «pulsional » e «pré-lógico», encontrado nos povos colonizados pelo Ocidente, mas também nos populares e crianças ou nas pessoas com transtornos mentais, serviu para situar o «Outro», no quadro das vanguardas artísticas, dos fascismos e da afirmação do Estado-Nação. […] É que diante do fecho das fronteiras, especialmente na Europa, em face da crise climática e do racismo estrutural, fazer a crítica da história e das instituições é, evidentemente, muito pouco. Contudo, podendo ser um grão de areia, é um gesto necessário para sermos capazes de continuar a imaginar sem «fechar o futuro».
[Marta Mestre]
Se «primitivo» teve conotação negativa quando relativo a «incivilizado», foi também a designação usada na história da arte para referir os pintores pré-renascentistas, no sentido de que teriam sido os «primeiros» a iniciar uma renovação na arte. No primitivismo há também esse significado de «primordial», mas com outras nuances. A ideia fundamental subjacente ao primitivismo é a de que uma determinada população, uma determinada geografia, e os objectos que produzem, têm um carácter primevo, originário, possuindo uma ligação mais directa com o mundo sem a mediação da cultura ou da tecnologia. Mas essa ideia, tendo gerado complexidades, que incluem resistências e possibilidade emancipatórias, assenta na profunda desigualdade e desumanização criada pelo sistema imperial e colonial, e também pelo sistema político, com desigualdades entre populações rurais (e a arte popular foi outra fonte primitivista) e urbanas.»
[Mariana Pinto dos Santos]