Na zona industrial, a noite aproxima-se com uma brisa morna, as nuvens são fiapos cor-de-rosa no horizonte. Ouves as gaivotas. Queres pôr-te na alheta. Mais vale ir para a zona dos restaurantes, onde passa gente. Mas vês um carro, ao longe, e atravessas a rua a esbracejar. O carro para enviesado ao pé dos contentores do lixo, com uma das rodas por cima do passeio. Sai um homem de fato, que segura uma maleta de couro vermelho. Fecha a porta com um estrondo. Com cara de poucos amigos, faz que não te vê. Mas tu gostas de dar a volta a estes finórios. Em tudo na vida é preciso dar show, é preciso lábia. Não é só chegar e pedir. É chegar e deslumbrar, ensinou-te a tua mãe, antes de fugir para o Brasil com o namorado. («Dado da sorte», página 9)