Aceitamos (quase) todo o tipo de pagamentos.
  • Os cavalos adoram maçãs

Os cavalos adoram maçãs

13,00 €  
IVA incluído.

SKU: 9786559004218

Os cavalos adora maçãs
Ozias Filho

76 pp.
Urutau, 2023
9786559004218

Escritor, fotógrafo e editor de livros, Ozias Filho aprimorou a sua carreira artística e profissional em Portugal, país em que reside há mais de três décadas. Durante esse período, inclusive, o autor de Páginas despidas e Poemas do dilúvio tem desempenhado também a função extraoficial de embaixador da poesia brasileira em terras lusitanas, as mais das vezes sem o natural apoio do Itamaraty.
Como poeta, antes de Os cavalos adoram maçãs, Ozias Filho tivera apenas dois de seus livros editados no Brasil: Insulares e O relógio avariado de Deus. É importante salientar que ambos foram originalmente publicados em Portugal. Portanto, este Os cavalos adoram maçãs já salta da prensa com o mérito de ser a única obra do escritor, até o momento, cuja primeira edição se dá no país em que “Vinicius escreveu um poema/ para Teresa, mãe de Leonor” e para onde se volta, numa página pungente, a sua “finestra di memoria”.
Embora a memória funcione como um leimotiv em diversas passagens deste livro — acendendo até mesmo “o aroma da saudade” ou “a bossa/sempre nova” de Tom Jobim e João Gilberto —, há espaço também para a crítica político-social e para aguda certeza de que “nenhuma palavra pode nos salvar”. A “tecla minimalista do silêncio” serve de contraponto à precisão momentânea da realização poética, exposta ao “esquecimento para continuar/a escrever coisas novas/mesmo que seja para bater/às mesmas portas”.
Até mesmo a dicção confessional jamais se entrega ao leitor, aqui, sem a tradicional sagacidade do ofício: “para não dizer que não falhei às flores”; “desconfio que deus é a minha mãe//quando diz/come e cala-te”; “troco de pele todos os dias/no evangelho de destruir o planeta”; “tu não verás os meus cabelos brancos/a tua face heterônima (…) não verás morrer a ficção que criaste”. Este último excerto se insere num núcleo simbólico no qual a lembrança paterna domina a cena e, aos poucos, se adere ao próprio eu lírico, num processo de radical identificação: “mais anos de calendário/do que o meu pai/entanto o espelho insiste/em devolver-me/a sua imagem”.
O título desta coletânea rebrilha numa peça premida pela imagem de “um cavalo branco morto/estendido sobre a linha férrea que liga/a Praia das Maçãs a Sintra”. Uma imagem que, como um poliedro, reflete em suas faces tanto o “calmo azul/por sobre/a cidade/que perece” quanto a “noite de posses ancestrais”. Captar tais nuances é o destino das grandes leituras. Oxalá o presente livro se entregue por inteiro a este destino.

Iacyr Anderson Freitas
escritor e ensaísta