Os Amanhãs de Ontem. Sobre a solidão dos espectros comunistas e a reconstrução do futuro
Os Amanhãs de Ontem. Sobre a solidão dos espectros comunistas e a reconstrução do futuro
Bini Adamczak
tradução: Bruno Peixe Dias
Tigre de Papel, 2025
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O fracasso da revolução comunista apresentado numa série de catástrofes. O projeto comunista, no século XX, nasceu de desejos utópicos de oposição às estruturas de classe e de abolição da opressão. As tentativas de realização desses ideais transformaram-se, no entanto, numa sequência de fracassos colossais. Em Os Amanhãs de Ontem, Bini Adamczak examina essas catástrofes, avançando pela ordem cronologicamente inversa, de 1939 a 1917: o Pacto Hitler-Estaline, o Grande Terror de 1937, o fracasso da esquerda europeia para impedir o nacional-socialismo, a ascensão de Estaline ao poder e a sangrenta derrota da rebelião de Kronstadt. Ao longo desse processo, a autora procura um futuro que nunca aconteceu.
Se no seu livro anterior, Comunismo: uma pequena história de como tudo poderá ser diferente (Tigre de Papel, 2020), Adamczak apresentava o comunismo como um conto de fadas com a hipótese de um final feliz, neste oferece-nos uma tragédia. Descreve a deportação de volta para a Alemanha nazi de antifascistas exilados — uma traição de comunistas contra comunistas; a incredulidade inicial dos comunistas europeus face à notícia do pacto Hitler-Estaline; o plano de terror de Estado de Estaline; o desaparecimento da classe e a emergência de cálculos táticos e económicos; o definhamento e a impossibilidade dos sucessos da revolução; e a promessa barata de que «da próxima vez será democrático».
O que pesa sobre a possibilidade do desejo comunista, escreve Adamczak, não é apenas o fim da história, mas, antes de mais, o fim da revolução. Não apenas 1989 mas também, e sobretudo, 1939, 1938 e, mais para trás, 1924 e 1917. Só compreendendo essa história poderemos trabalhar para um futuro melhor.
