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O Meu Suicídio

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 Meu Suicídio 

de Henri Roorda
Capa com pintura de Rui Cunha Viana
Design e paginação: Pedro Simões
Revisão: Sara Veiga
ed. Snob

Henri Roorda Van Eysinga (1870-1925), que também assinava Balthasar, foi, na sua vida de pacato cidadão suíço, professor de matemática. E porque além de ensinar gostava de escrever, não produziu apenas este derradeiro livrinho, que anuncia e explica o seu suicídio. Escreveu também ensaios sobre pedagogia e ainda teatro, poesia e diversos escritos de circunstância, a que ele próprio chamava “prosas de almanaque”. [...]
“Dizem que o último a rir é quem ri melhor. Mas provavelmente é falso. O homem que for último a rir não vai rir quase nada. O seu riso leve será muito pouco ao lado do riso homérico das primeiras idades”. Pensamento extraído do seu ensaio “О riso e os que riem”. Última frase desse ensaio: “A minha avó tinha razão: não estamos cá na terra para nos divertirmos”. 

A 7 de Novembro de 1925 Roorda despede-se dos amigos no café, vai para casa, bebe meia garrafa de vinho do Porto e dispara uma bala no coração. Era um homem que amava apaixonadamente a vida, ele mesmo o diz nesta confissão “in articulo mortis”, que é O Meu suicídio. Mas, acontece, vem também nos livros: aquele que ama apaixonadamente mata aquele a quem ama. Ou aquilo que ama. No caso concreto, a vida. 

Rui Caeiro


Excerto:

São as pessoas bem comportadas, os amigos da ordem, que fazem a estabilidade do edifício social. É preciso que sejam em grande número. São eles que fundam famílias. Fazem filhos à sua imagem e semelhança, os quais, por seu turno, se reproduzirão; e, assim, a vida vai continuar. Disseram-lhes: “Crescei e multiplicai-vos!”. E eles obedecem. 
Devemos admirar sem reserva esses seres respeitosos que tão bem desempenham o seu papel de bons cidadãos? Que sabor teria a vida se a sociedade fosse formada apenas por tais seres? É talvez a sua falta de imaginação que lhes permite serem tão uniformemente virtuosos. Vivem com prudência; na sua existência cabem apenas as pequenas coisas permitidas; vigiam os seus gestos e palavras; nunca têm grandes impulsos; não conhecem a exaltação e a adoração. E o respeito torna-os frequentemente estúpidos.
É necessário que no mundo aconteça, de tempos a tempos, uma desordem, para que as coisas novas possam nascer. A desordem é sempre provocada por maus cidadãos, por entusiastas que se embebedaram de palavras.
A esses eu compreendo. Sou indulgente com as suas fraquezas. Como eles, tenho necessidade de viver com exaltação. A minha vida precisa de ter muitos minutos deslumbrantes. A poesia e a música podem proporcionar-mos. Também me exalto ao pensar no trabalho que vou começar. Será que daríamos início a alguma coisa se primeiro não estivéssemos emocionados pela beleza do que vamos criar? As boas comidas e o vinho também me proporcionaram momentos de alegria profunda. Há vinhos tão nobres que ao bebê-los sinto necessidade de agradecer a alguém.