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O Medo

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O Medo
José Martins Garcia

Abertura de Alexandre Borges

 

Sempre desconfiei da qualidade intrínseca de poemas sobre cravos. O realismo dá-se-me mal com amanhãs que cantam. Entendo que está por fazer justiça àqueles que, como José Martins Garcia, tiveram a coragem de não escrever para serem amados. De não jogar para a canonização instantânea.
Martins Garcia, que militou brevemente nos primeiros tempos do Partido Socialista, que escreveu no República e, depois, no Jornal Novo, que, antes disso, andara de G3 pela Guiné, verte essas vivências para o olhar cortante com que capta o medo durante um tempo, entre 1974 e 75, que ficou para a História descrito como “PREC” – Processo Revolucionário Em Curso.
E, embora não estejam lá os nomes das personagens que habitam a Lisboa desses dias, estão todas as pistas para que as deduzamos à memória recente do país – com o “Xerife” à cabeça. Os excessos, os embustes, as contradições desses dias, estão todos aqui, retratados sem apelo nem agravo, sem deslumbre, nem sequer mágoa – apenas a crua razão, serena e distante, que tão mal tende a cair aos estômagos mais sensíveis.
[…] Outros cantaram e cantarão as glórias de Abril. Outros a maravilha da bruma açoriana. Aqui, quem quiser entrar, é favor pendurar o deslumbre à porta. E deixar-nos em sossego com os nossos cigarros e o nosso pessimismo.

[Alexandre Borges, em “Isto do Medo”,  texto de abertura de O Medo]