Cruzei-me com Álvaro Filho no espaço de entusiasmo pelos livros e pela escrita e reconheci nele essa atenção, essa escuta – atenção e escuta que são indispensáveis para quem quer escrever. É no ouvido e no zoom da observação que reside a potência de qualquer literatura e Álvaro Filho tem essa atenção e escuta indispensáveis para quem escreve e que Álvaro tem de forma evidente. Autor de cinco romances, Álvaro Filho circula como escritor entre o Brasil e Portugal com a mesma língua, uma circulação visível não apenas no seu trajeto na literatura e nos vários prémios literários, mas também, de modo ostensivo, neste novo livro, colocando a expectativa do leitor em movimento sobre a relação entre portugueses e brasileiros em Portugal, que muito se escreve nos jornais, mas não só: também na fraternidade que por vezes existe, mas também, por demasiadas vezes, conhece incompreensões e tensões. A leitura de O Mau Selvagem é, nestes tempos conturbados onde a questão da migração torna a ser central, sem dúvida, não apenas atual, mas indispensável.