O Deserto que vem – Ecologias de Kropotkin a Marte, seguido de Cidades Ideais
O Deserto que vem – Ecologias de Kropotkin a Marte, seguido de Cidades Ideais
Mike Davis / Colin Ward
tradução: Júlio do Carmo Gomes
Revisão: Macabéa d’Oliveira
Ilustrações originais da capa e contra-capa: Salomé Marek Gomes
Design de Capa: Bruno Rosa
Paginação: Bruno Inácio
Cornuda Radiante, 2025
-
O Deserto que vem – Ecologias de Kropotkin a Marte
Será que afinal a desertificação, no contexto do Antropoceno, deve ser concebida como uma época de aridez crescente que advém do Holoceno?
Kropotkin acreditava que a dessecação era um processo geológico contínuo e que esta se podia observar em todo o Hemisfério Norte. Por esta razão, o geólogo e anarquista russo desafiou radicalmente a ortodoxia ao sustentar a continuidade da dinâmica climática global entre o fim da Era do Gelo e os tempos modernos: longe de ser estacionário, o clima vinha mudando continuamente numa direcção unidireccional e sem interferência humana ao longo da história.
Neste breve ensaio, Mike Davis explica que a tese de Kropotkin foi a primeira tentativa científica no campo da ecologia de apresentar uma argumentação abrangente a favor das alterações climáticas naturais como força motriz da história da civilização.
Mike Davis (1946 – 2022) foi um destacado historiador e um dos mais heterodoxos teóricos urbanos contemporâneos. Muito antes do seu percurso académico, foi camionista e operário em matadouros em San Diego, iniciando os seus estudos universitários apenas aos 28 anos. Interessou-se pelo marxismo e pela luta de classes, problematizando as questões de classe, poder e ecologia política através do estudo das assimetrias da propriedade em Los Angeles, do desenvolvimento das favelas, dos planos urbanísticos catastróficos na Califórnia e da militarização da vida social em nome de medidas de segurança. Durante décadas investigador independente de grande erudição pluridisciplinar – da geologia ao urbanismo, da etnologia à sociologia, da crítica social à ecologia – Davis tornou-se num dos mais heréticos e relevantes ensaístas norte-americanos, autor de inumeráveis obras marcantes como City of Quartz, Late Victorian Holocausts, Planet of Slums, Old Gods, New Enigmas: Marx's Lost Theory e The Monster Enters: COVID-19, Avian Flu and the Plagues of Capitalism.
Cidades Ideais
O arquitecto e historiador Colin Ward (1924 Wanstead – 2010 Ipswich) foi uma das figuras-chave do anarquismo britânico do século XX. Escritor prolífico, assumiu durante duas décadas a edição do jornal Freedom, fundado em 1886 por Kropotkin na capital londrina. Em 1961, Ward fundou a revista mensal Anarchy, difundindo a sua visão do anarquismo não como uma teoria utópica, mas enquanto um conjunto de práticas sociais capazes de criar formas alternativas de organização informais, sem hierarquias e não submetidas às políticas estatais.
Cidades Ideais é um brevíssimo esquisso sobre diferentes visões de organização dos aglomerados humanos da Modernidade à era Contemporânea.
Ward escreveu sobre uma ampla variedade de tópicos, incluindo política contemporânea, ocupação ilegal, habitação, arquitectura, educação, planeamento urbano, práticas anarquistas e ajuda mútua. A sua versão do anarquismo quotidiano, que envolvia experimentação e intervenções práticas, atravessa as páginas de livros como Anarchy in Action (1973), Housing: An Anarchist Approach (1976), Welcome, Thinner City: Urban Survival in the 1990s (1989) e Sociable Cities: The Legacy of Ebenezer Howard (1998), volumes que dão visibilidade à realidade de experiências que já acontecem no contexto do capitalismo e que potenciam a liberdade, ampliam a autonomia local face às autoridades externas e promovem o bem-estar social.
‘Existem muitas formas possíveis de conceber uma cidade: quadriculada, radial, linear, satélite ou enorme aglomeração; o que importa é a actividade que nela ocorre, em que medida o plano a determina e até que ponto essa actividade faz bom ou mau uso do espaço para os seus próprios fins e valores.’

