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Neblina

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SKU: 9786559001897

Neblina
de Bárbara Gontijo

68 pp.
Urutau, 2021
9786559001897

Os dias, as horas, o que é preciso fazer nascer com as próprias mãos. O livro de estreia da Bárbara Gontijo se faz assim uma paisagem na neblina. Quando eu era pequeno, ouvi muito da minha mãe uma outra palavra para essa precipitação de nuvens: cerração. Elas não são a mesma coisa — diferença mínima que toca a distância da visibilidade. Mas me lembro aqui dessa palavra porque esse livro faz reverberar a umidade, num clima seco, e fecha a vista sutilmente. Tudo, nessa instabilidade do que se pode ver, tenta dar nome, tenta acabar um poema, como quem acaba também uma história. Entre sumir e sonhar, esses poemas falam do que dói, do que seca a garganta para além da pele seca antes da neblina. Esses poemas também nos propõem respirar melhor, antes e depois da neblina. Como portar o outro, como responder pelo que ganharia esse nome desordeiro de amor, num mundo inteiro que é apenas um canto, um pedaço muito curto do que ocupa o corpo?
“me cerrando o corpo” parece responder um dos versos. O que cessa, cerra, nevoa é o que um nome pode guardar diante do abandono de escrever, escavar, esvaziar. O que quer dizer talvez: “vou ali e volto já”, a um metro e meio — efeito de neblina como efeito de fim do mundo. Um corpo marcado, como todo corpo é marcado, é o que a gente pode ler aqui. Por mais que se negue, todo corpo postula-se uma marca de alguém outro que esteve por ali — sejam as companheiras, as mães, isso que vai de uma à outra. Ou ainda esses poemas são arquivos do que não se pode esquecer, na luta do esquecimento. Um poema pode ser um trabalho de luto por aquela que ainda não morreu? O poema inscreve essa temporalidade iminente da perda, do desmembramento do fogo que parece evocar uma personagem possuída, um pensamento mágico diante do que nós não damos conta diante da vida comum, não ainda. Então, o que essa Neblina nos propõe é reaprender, pela palavra, tocar o corpo do outro, esse corpo sempre distante numa imagem que não se dá senão pelo que resta e demora; querer uma carne depois do estremecimento.

PIERO EYBEN