«Para a morte dum poeta levo angústia fato preto e as crateras dos teus olhos
Um boquet de palavras saltitantes flor amor amizade rapariga madressilva guarda-chuva coração e pé-de-salsa
Para a morte dum poeta levo aurora madrugada tua boca meu olhar e andorinha levo uma saudade fina quase triste meus dois filhos sossegados pela mão levo os frutos das colheitas atrazadas levo rosas de papel para os poemas e um pouco de cal viva pró seu sexo
Para a morte dum poeta levo as ruas onde os sonhos se estilhaçam levo as casas onde nascem homens novos cheios de sol e de sal cheiro de mar levo as praias sem pègadas ovos de tartaruga levo os símbolos que amamos como aos objectos domésticos hei-de levar uma lágrima se não me esquecer
Para a morte dum poeta levo angústia e meus dois filhos pela mão
Para a morte dum poeta levo esperança»
Não sou daqui: eu vim num dorso de vaga – Candeias Nunes
(prefácio de Jorge Candeias/ capa e composição por Inês Mateus)