Volta a ser criança. Ensina-me a poesia. Ensina-me o ritmo do mar. Restitui às palavras a sua inocência primeira. Faz-me nascer de um grão de trigo, não de uma ferida. Faz-me nascer e devolve-me a um mundo anterior ao significado para que possa abraçar-te na erva. Ouves-me? A um mundo anterior ao significado. As árvores altas caminhavam connosco enquanto árvores, não enquanto significado. A lua despida rastejava connosco. Uma lua, não um prato argênteo. Volta a ser criança. Ensina-me a poesia. Ensina-me o ritmo do mar. Toma-me pela mão para que possamos atravessar juntos o abismo que separa a noite do dia. Juntos aprenderemos as primeiras palavras e construiremos um ninho secreto para o pardal, o nosso terceiro irmão. Volta a ser criança para que eu possa ver o meu rosto no teu espelho. Tu és tu? Eu sou eu? Ensina-me a poesia para que eu possa escrever-te uma elegia agora, agora, agora. Como tu ma escreves a mim!