«SÓNIA …e as pessoas a quem pagávamos para nos limparem a casa? Era tão giro! Eram sempre mulheres. Chamávamos-lhes de nossas empregadas e elas faziam quase tudo. E nós gozávamos tanto com elas… Era incrível, tão bom! LÍGIA Mesmo! SÓNIA Não tínhamos que fazer senão as coisas diárias do almoço e das compras. Punhamos a loiça em máquinas… LÍGIA Parecia que nada se sujava. Como se não houvesse amianto. SÓNIA Na altura chamávamos pó. LÍGIA Pois é, pó. O pó sempre aspirado. SÓNIA Sempre. LÍGIA E nós fazíamos troça daquela maneira incauta com que elas limpavam as nossas cristaleiras, as nossas estantes. Podíamos encher as estantes com livros bem pesados e mal equilibrados a pender sobre os bibelôs que os sucediam que, quando os bibelôs se partiam, a culpa era sempre delas. Cheguei a fazê-lo de propósito para despachar um souvenir mais feio ou, se me aborrecia, para curtir um pouco com a sua cara.»