Fadários - José Xavier Ezequiel
Fadários
de José Xavier Ezequiel
15,5 x 23,5 cm
248 pp
Abysmo, 2021
9789898980120
Era uma vez um bairro popular (muito parecido com o Bairro Alto, em Lisboa). Havia putas às esquinas quase tão gastas como a tinta das paredes onde faziam tempo para o galão morno e a meia torrada a pingar de margarina vegetal na Leitaria Bar Nelson, havia negócios surdos com relógios de marca e tirantes de ourina catados de esticão, havia velhos quase a cair da tripeça, daqueles que se agarram apaixonadamente à bengala e se debatem com tenacidade por cada centímetro de calçada polida, e também havia velhos um pouco menos velhos que, nos intervalos da venda da lotaria e dos jornais, ainda conseguiam decifrar a cor dos reis das senas e dos duques antes de os lançarem em voo planado para o difícil aeródromo da mesinha de mármore furta-cores, bem mais preocupados em não acertar nas rodelas olímpicas de tinto benzido do que em ganhar pontos lambidos ao adversário de todas as tardes
de José Xavier Ezequiel
15,5 x 23,5 cm
248 pp
Abysmo, 2021
9789898980120
Era uma vez um bairro popular (muito parecido com o Bairro Alto, em Lisboa). Havia putas às esquinas quase tão gastas como a tinta das paredes onde faziam tempo para o galão morno e a meia torrada a pingar de margarina vegetal na Leitaria Bar Nelson, havia negócios surdos com relógios de marca e tirantes de ourina catados de esticão, havia velhos quase a cair da tripeça, daqueles que se agarram apaixonadamente à bengala e se debatem com tenacidade por cada centímetro de calçada polida, e também havia velhos um pouco menos velhos que, nos intervalos da venda da lotaria e dos jornais, ainda conseguiam decifrar a cor dos reis das senas e dos duques antes de os lançarem em voo planado para o difícil aeródromo da mesinha de mármore furta-cores, bem mais preocupados em não acertar nas rodelas olímpicas de tinto benzido do que em ganhar pontos lambidos ao adversário de todas as tardes