Aceitamos (quase) todo o tipo de pagamentos.
  • ENTREVISTA

ENTREVISTA

16,75 €  
IVA incluído

ENTREVISTA
António Vieira

186 páginas

Companhia das Ilhas, 2023

-

Esta auto-entrevista, gizada através de dois entrevistadores ficcionais, leva o autor a sair de si para olhar de fora pontos obscuros da sua escrita e a regressar a si em busca de respostas, alternando sístoles e diástoles do olhar crítico.

-

Priscilla (Prisc.) Desde há muito tem viva propensão para escrever contos.
António Vieira (A.V.) Um escritor disse-me uma vez, sem para isso ser solicitado, que eu não deveria escrever contos porque, no espaço da literatura lusa, eles não têm prestígio (ao contrário do que acontece, por exemplo, na literatura francesa, ou na brasileira).
O comentário pareceu-me tão insólito que decidi retomar imediatamente o trabalho dos contos.
Prisc. Muitos dos seus contos consumam-se na frustração do desejo do herói. Que às vezes coincide com o narrador, que faz tropeçar alguns dos heróis no próprio objecto do seu desejo.
A.V. O que serve de metáfora, senão de reflexo, para a vida humana. Perseguimos frutos proibidos: no limite, o caçador Gracchus perde o rumo para a morte, situação terrível, a que Kafka o tinha condenado enquanto nele se projectava. – Porque é essa, afinal, a experiência da vida de todos nós. Os objectivos resistem, os planos periclitam, o ânimo reluta. Como se a cada passo o mundo nos opusesse uma resistência obstinada. Há esse escolho, no qual embate a liberdade e contra o qual se rompe o projecto humano.
Por isso, nos meus contos, os construtores do golem não logram animá-lo; o homem tatuado que partira para o Pacífico não consegue obter a noiva desejada; e n’O confronto, o herói mítico que conquista a fórmula última da verdade do mundo quebra-a incautamente antes de a decifrar, quando desce a montanha. – É o destino de Orfeu ao procurar Eurídice: de querer ver o inacessível, perde-o e perde-se na noite.

[…]