DESEJO E O MASSAGISTA NEGRO (COM OUTRAS HISTÓRIAS)
DESEJO E O MASSAGISTA NEGRO (COM OUTRAS HISTÓRIAS)
Tennessee Williams
tradução: Aníbal Fernandes
176 páginas
Sistema Solar, 2025
O estilo de Tennessee Williams na prosa de ficção serve-se com audácia das oralidades do inglês americano, não hesita perante adjectivos e advérbios, omite verbos, insiste na monotonia dos pronomes, com tudo isto a funcionar com sábia destreza entre pingos de uma chuva, a conferir ritmos que fascinam, muitas vezes sem viabilidade de serem reconstituídos pela verdade de uma outra língua.
Na selecção dos contos deste livro, com duas excepções, há a presença mais ou menos explícita da homossexualidade. Mas Christopher Isherwood, entre outros, achava que Tennessee Williams se sentia com desagrado homossexual; e afirmou que havia nele o lamento de não ter nascido mulher. Nas suas peças teatrais Tennessee deplora o puritanismo americano, chega às camaradagens equívocas à Walt Whitman, mas retrai-se perante o homossexual assumido. No entanto… esta ginástica, esta contorção, não evita entrelinhas explícitas.
Em muitos dos seus contos, com personagens retiradas da evidência directa e representada perante um público no palco, consentiu a si próprio um pouco mais de liberdade. Mas os seus homossexuais não evitam ainda assim a sensação de culpa e, em «Desejo e o Massagista Negro», um dos seus contos mais fulgurantes, a cruel expiação.
[Aníbal Fernandes]
