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Crateras

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SKU: 9789723706000

Crateras
de Gastão Cruz

Assírio & Alvim, 2000
9789723706000
96 pp.

Gastão Cruz (n. 1941), poeta e ensaísta, foi um dos animadores da colectânea "Poesia 61". Desde o seu primeiro livro, "A Morte Percutiva", publicado aos 19 anos, que a sua escrita evidencia um grande rigor de linguagem, que Maria Alzira Seixo define assim: "a sua secura lírica (...) é quase sempre cortada por velada ironia e reduções de tipo frásico ou semântico (...) e por um messianismo vocabular que encara a palavra como invenção do mundo."

"Crateras", o seu livro mais recente, foi distinguido com o Prémio D. Dinis, da Casa de Mateus, e Fernando Pinto do Amaral, poeta e ensaísta que integrava o júri que premiou a obra, referiu-se-lhe assim: "Começando a percorrer estas "Crateras", nota-se desde logo que uma parte considerável do livro consiste num roteiro pessoal, numa viagem de regresso à infância, arrastando consigo imagens e sons, ecos e reflexos, paisagens geográficas e humanas graças às quais se configura um universo entretanto degradado ou perdido, essa "vã cidadezinha" ou "pequena cidade da infância" onde o sujeito já não pode voltar, mas que se reconstitui através daquilo que se propaga no tempo e se repercute no presente." Como poderá constatar pelo poema em prosa que a seguir se transcreve:

RECORDAÇÃO EM FARO

Gritam na tarde quente de novembro os pavões.
Uma palmeira e um plátano tocam-se junto ao lago.
Ele vinha falar de rosas às rosas (Estamos no mês de maio - e convém falar de rosas, Notas Contemporâneas), e ao plátano ler, de Valéry, a ode ao plátano: Dobras-te, grande plátano, e branco te ofereces, / nu como um jovem Cítio, / mas a tua candura está presa e obedeces / só à força do sítio.
Uma noite bebera um pouco mais e agredira o busto, sobre o piano, de Lizt, que o irritava. Talvez lhe aceitasse a Sonata, uma excepção. Gostava de Fauré, Ravel, Debussy. No Jardim, volteava, com a valsa, brandindo o guarda-chuva.
Os colegas, no Grémio de Panificação, vingavam-se das suas fantasias de esteta, atirando-lhe tapetes, que manchavam de pó o fato impecável.
Mas ao cair da noite regressava ao Jardim para escutar o concerto dos pássaros recolhendo às grandes árvores.