COMUNIDADES E FULGURAÇÕES na obra de Maria Gabriela Llansol
COMUNIDADES E FULGURAÇÕES na obra de Maria Gabriela Llansol
organização: Patrícia Soares Martins
autores: Patrícia Soares Martins; Golgona Anghel; João Barrento; Maria Etelvina Santos; Amândio Reis; Francisco Saraiva Fino; António Guerreiro; Rita Anuar; Maria Brás Ferreira; Simone Moschen; Silvina Rodrigues Lopes; Elisabete Marques; Fernando Guerreiro; Regina Guimarães
Colibri, 2024
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Uma das particularidades da escritora de que aqui nos ocupamos é a sua permanente dissidência relativamente a uma “literatura nacional”. Tendo escrito na Bélgica em português grande parte da sua obra, a autora aproxima a sua escrita da de Kafka que, como ela, escreveu uma “literatura menor” – nos termos de Deleuze (Deleuze 1975) –, no interior de uma tradição alemã à qual não pertencia. Escreveu, como Kafka, em “sobreimpressão”, palavra que cunhou para descrever uma escrita que constrói paisagens belgas sem “raízes” reconhecíveis entre os falantes do português. (…). Por este motivo, a autorreferencialidade do texto llansoliano é mais do que uma dobra reflexiva do texto, é o reconhecimento de uma falta, de um vazio que, a partir de uma ausência de referências culturais comuns a quem escreve e a quem lê, desencadeia o movimento da escrita onde a leitura se inscreve já, como se fosse uma “máquina de emaranhar paisagens” (Helder 1963).
[do “Prefácio”]