As Portas de Santo Antão Roteiro fenomenal da mais afamada rua lisboeta Luis Manuel Gaspar
Certo dia, desapareceu o homem da cartola que há muito anunciava em cor sobre vidro os benefícios de certa bebida alcoólica, ali numa das inúmeras entradas da alfacinha e afamada Rua das Portas de Santo Antão. O poeta passeante, Luis Manuel Gaspar, muito dado à observação das minudências e das metamorfoses, sentiu a urgência de bater em verso a todas e cada uma d’ As Portas de Santo Antão. Invocou a santidade de mestres do agudo nonsense e imorredoiras infâncias, tais Lewis Carroll ou Edward Lear ou até o descendente Fernando Pessoa, para fixar em âmbar delirante e musical uma Lisboa em vias de extinção e a explosiva ideia de cidade, onde a mais libertária diversidade se faz raiz do maravilhoso. Cada porta, aqui e na realidade, da Casa do Alentejo à Sociedade de Geografia, do Gambrinus à Solmar, da sapataria à casa das cintas, abre sobre outros lugares, geografias, vidas. E deixa entrar a corrente de ar da mais melancólica das alegrias.