Num quarto uma voz desperta na estranha incerteza de ter nascido. Na ignorância do que será afinal esse encontro entre si própria e um mundo, emerge inevitável uma tentativa de explicação e uma sede por referências; avançando, a voz, curiosa e inquisitiva, começa através das palavras a entretecer aquilo que vai tornando seu, enquanto é atravessada por uma estranha e vaga familiaridade. O seu relato, quase liberto de memória, vai configurando um mundo que é constantemente renovado e questionado, até ao abalo da pretensão a uma descrição verídica... Alice mostra como a linguagem pode ou não adquirir um peso estruturante no estabelecimento dos problemas e tragédias que atravessam as vidas humanas, e como as palavras são também sintomas plásticos e sinuosos, saturados das sucessivas experiências de cada um.