Água Viva
Água Viva
Clarice Lispector
Revisitação de pontos centrais no universo literário de Clarice Lispector, Água viva é pura incandescência da inventividade e da linguagem. Uma enigmática voz feminina – toda audácia, delírio e sedução – conduz a narrativa. Esta mulher, cujo nome não sabemos, deseja mudar de ofício e tornar-se escritora. Ela é um eu que reivindica a ocupação de um espaço e de um tempo, que se dirige a um tu misterioso e que propõe o ousado alinhamento de humanos e bichos, natureza e linguagem, rumo ao centro da vida, que Clarice perseguiu em todas as suas obras.
Contestando limites e sem cedências à convenção, este livro inaugura um espaço partilhado entre quem escreve e quem lê: nesta mulher, na sua inquietação ou na sua letargia, nas suas fraturas ou nas suas pulsões, reconhecemos uma humanidade em estado bruto. O tom fragmentário é contrariado por uma cadência de demandas e reflexões tão profundamente individuais como peremptoriamente universais. Um livro desconcertante, que oferece uma hipótese de fusão entre escrita e leitura, forma e tema, corpo e pensamento: radicalmente inovador, ao suspender as fórmulas de representação romanesca, e irresistivelmente transgressor, na exposição das costuras da ficção e da voz lírica.
«Água viva é a fala tardia e nocturna, por vezes quase sonâmbula […] de uma pintora que deseja mudar de meio de expressão e procura assim dar conta, nesta noite ‘mais longa do que a vida’, do seu nascimento enquanto escritora […]. Mais do que assistir a este parto, é dado ao leitor participar nele e na descoberta do (i)mundo, com o susto de quem vê o informe tomar forma.»
Joana Matos Frias
112 páginas
Companhia das Letras, 2025