Visto a cem metros, parece um morango gigantesco de plástico, mas não é. É apenas o meu coração, três quilos de massa muscular palpitante, e estava em muito mau estado naquele dia. Músculos, artérias, válvulas, cavidades, impulsos. Seguia pela rua arrastando-o atrás de mim, como faço normalmente. Era dia dezassete de março e podia sentir a aproximação da primavera. Uma pequena multidão caminhava a meu lado. Pessoas, abelhinhas, afadigadas nos seus murmúrios entre os carros e as árvores. A vida corria tranquilamente, todos os rios seguiam em direção ao mar, exceto o meu coração. Meia hora antes, segundos antes de sair do trabalho, tinha aumentado subitamente de tamanho — mais cinco centímetros de diâmetro — e desatado a bater em frenesi. Tinha enlouquecido.