Nostradamus
NOSTRADAMUS
Alberto Savinio
tradução e apresentação: Aníbal Fernandes
Sistema Solar, 2024
112 páginas
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Quando André Breton publicou em 1940 a sua Antologia do Humor Negro, decidiu incluir entre quarenta e cinco seleccionados um único italiano, Alberto Savinio, com um excerto da Introdução a Uma Vida de Mercúrio. E explicava: «Qualquer mito moderno ainda em formação apoia-se, na sua origem, em duas obras quase indiscerníveis no seu espírito, a de Alberto Savinio e a do seu irmão Giorgio de Chirico, obras que atingem o seu ponto culminante nas vésperas da guerra de 1914. Os recursos do visual e do auditivo são simultaneamente levados a contribuir para a criação de uma linguagem simbólica, concreta, universalmente inteligível pelo facto de pretender dar conta, no mais alto grau, da realidade específica da época […]. “Na época actual”, escreveu Savinio em 1914, “a via destinada a predominar caracteriza-se sobretudo pela sua forma austera e sombria, pela aparência rígida e bem materializada da sua metafísica… Longe daquelas idades onde a total abstracção reinava, a nossa época seria levada a fazer jorrar as próprias matérias (das coisas) com os seus completos elementos metafísicos. A ideia metafísica passaria do estado de abstracção ao dos sentidos. E assim se alcançaria a valorização total dos elementos que informam o tipo de homem pensante e sensível.”»
Este «programa», muito central na atitude pictórica e nalguns textos de Savinio, não deixa de mostrar-se com maior e menor discrição em tudo o que ele escreveu. Encontrá-lo-emos um tanto disfarçado nesta bem-humorada e efervescente divagação sobre o mago Nostradamus, que num dia quente do ano de 1566 caiu no chão com um abafado ruído, semelhante ao da queda de um sapo. «Há, entre sapos e profetas, uma afinidade sonora», informa-nos a sabedoria proto-surrealista do escritor Alberto Savinio.
[Aníbal Fernandes]