Notícias em Três Linhas
Um dos livros do ano, segundo os críticos António Guerreiro e Maria da Conceição Caleiro, do jornal Público.
Os textos que apresentamos são por muitos considerados como um dos primeiros exemplos, senão o primeiro exemplo, dessa sub-espécie narrativa que dá pelo nome de micro-conto, embora não sejam mais do que «breves» publicadas no jornal Le Matin, em Maio de 1906 por um enigmático literato chamado Félix Fénéon. Poderiam assim ser introduzidos; poderiam, só que o objecto é muito mais complexo do que se revela à primeira vista.
Não escreveu romance nenhum. De resto, solicitado no fim da vida para publicar os vários e desvairados textos que deixara pelas revistas em que colaborara, negou-se, declarando que queria o silêncio. Outros o publicaram (o primeiro dos quais Jean Paulhan), assim como ele publicara outros.
Quem era Félix Fénéon? Era Félix Fénéon, nascido em Turim, Itália, a 22 de Junho de 1861 e morto em Châtenay-Malabry, França, a 29 de Fevereiro de 1944. À parte isso, foi funcionário público exemplar (e distinguido e no Ministério da Guerra!), e, ao mesmo tempo anarquista (e preso e julgado por isso), crítico de arte (defensor e patrono dos neo-impressionistas e dos nabis, agente de Matisse e de muitos outros pintores, coleccionador de obras de arte), praticamente responsável máximo da principal revista literária de fins do século XIX e princípios do século XX (La Revue Blanche), e, enfim, jornalista, galerista e editor.
Não se esperem ataques de gargalhada ao ler estes textos. A ironia fria e o humor negro de Fénéon prestam -se mais ao leve sorriso. Algumas das breves são simples breves, sem grandes artefactos estilísticos. Mas todas elas juntas dão -nos um quadro vivo da vida quotidiana no início do séc. XX em França e todas se lêem com proveito.